Wednesday 11 June 2008

polícia?

Manchete da Folha de hoje: polícia do Rio matou 358 pessoas no primeiro trimestre do ano. Nos meus momentos mais cínicos, eu dizia que a política de redução da pobreza de alguns governos é reduzir os pobres, matando-os mais rapidamente de fome e violência institucionalizada.

Como se faz para evitar o cinismo em relação às políticas públicas (and, for that matter, to the public opinion)?

Segundo o site que conta não-oficialmente os mortos no Iraque (porque oficialmente ninguém conta) , no primeiro trimestre de 2008 houve cerca de 2.700 mortos em todo o país. Assim, um cálculo rápido nos diz que somente a polícia - um organismo chamado de segurança do cidadão -, somente a polícia de uma cidade brasileira matou cerca de 13% do número total de mortos num país massacrado pela guerra, guerrilha, ataques suicidas.

The issue of statistics is a tricky one. Todos sabemos como é possível ver o copo cheio ou o copo vazio, dependendo de como se tratam os números. Há vários exemplos recentes, mas um é interessantíssimo de acompanhar.

Vocês TODOS devem saber como a AIDS e o HIV determinaram a existência de fundos internacionais de "combate" a esta "ameaça". Alguns de vocês devem saber que houve um barulho MUITO grande das correntes dominantes quando o presidente Mbeki da África do Sul, disse que a causa da AIDS é a pobreza, e não só o vírus HIV. Foi atacado de todos os lados.

Muita água já rolou debaixo da ponte desta história, que é muito comprida para contar aqui, mas o facto é que há cerca de 2-3 anos começou-se a construir um novo discurso - nada novo para os brasileiros de mais de 40 anos de idade -, de que a "verdadeira" causa das muitas doenças é a má-nutrição (really?), e que era preciso atacar as causas (?) desta, e que a causa desta é (guess what) a falta de comida e que a falta de comida é porque a produtividade é baixa e - tcham, tcham, tcham! - PORTANTO, precisamos de uma revolução verde liderada pelas corporações multinacionais que se engajam tanto no nosso bem-estar, tais como a Monsanto, a Cargill, a Unilever.

Uma série de dados discursivos estão a nos ser apresentados, mas precisamos ter OLHOS PARA VER. Nesta semana, por exemplo, veio às manchetes o "fato" de que o número de novos casos de infecção pelo HIV foi "superestimado" (again, really?) nos heterossexuais (?), e que de "fato", o número é mais baixo, e que portanto, provavelmente, reduziremos os fundos para o "combate" à doença etc.

Já desde o ano passado começou a diminuir o dinheiro internacional para HIV/AIDS (os fundos dos laboratórios para a "busca" de uma vacina não reduziram), e começaram a aumentar os fundos para (surpresa!) a agricultura, e as culturas geneticamente modificadas (GM), como solução para a fome (desta vez, o presidente Mbeki entrou de cara no apoio ao GM).

Ah, mas que interessante! Ontem recebi o novo relatório do Banco Mundial para o desenvolvimento 2008. Qual é o tópico este ano? Agricultura e desenvolvimento. Que coincidência!