Saturday 26 December 2009

Tuesday 15 December 2009

Conferência de Copenhague bate recorde de emissões de gás-estufa

Com este título, precisa falar alguma coisa?? A Marilia que me perdoe, mas preciso citá-la: "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Em Inglês, pelo lado positivo, deveria ser "Do what you preach!"

"A conferência climática da ONU em Copenhague vai gerar mais emissões de carbono do que qualquer outra conferência climática anterior, segundo dados divulgados pela Dinamarca. A "pegada" deixada pelo evento equivale à emissão anual gerada por mais de meio milhão de etíopes.

Delegados, jornalistas, ativistas e observadores de quase 200 países estão reunidos até 18 de dezembro em Copenhague, e seu deslocamento e trabalho vão gerar cerca de 46,2 mil toneladas de dióxido de carbono --a maior parte como consequência das viagens aéreas.

O carbono acumulado seria suficiente para encher 10 mil piscinas olímpicas. Ele equivale a todo o carbono produzido anualmente por 2.300 norte-americanos, ou por 660 mil etíopes --a diferença se deve à enorme disparidade de consumo entre os dois povos--, segundo estatísticas oficiais dos EUA relativas à emissão per capita em 2006."

Na Folha de Sao Paulo de hoje. E olha que é a FOLHA!

Monday 14 December 2009

Cape Town

E chegamos mais uma vez à bela cidade de Cape Town, em pleno verão, com sol a brilhar todos os dias, praia de manhã cedinho, e montes de trabalho pelo dia a fora. Mas com cara de férias, se não as atividades de férias!

Hoje pela manhã, nosso passeio cedo pela praia revelou uma história triste: uma família de focas havia de alguma forma sido jogada na praia pela maré alta. Uma foca com 7 filhotes mortos na areia. Muito triste. Havia muito vento ontem e a maré estava bem alta.

Muitas tarefas à frente antes da próxima viagem em 2 semanas!

Saturday 5 December 2009

Já foi, fui

Já fui!

Não é bem verdade, porque escrevo de Moçambique, de onde saio e ainda passo 2 dias na Tanzania antes de sairmos, mas para todos os efeitos a próxima residência é a África do Sul, pelos próximos 4 anos. Isso se deve ao fato de Peter e eu sermos doidos o suficiente para, em meio a muitas obrigações, nos propor a fazer um doutorado. Ele escreve sobre Tanzania e Gana, eu sobre Moçambiqe, meu país de adoção. Não que eles tenham me adotado porque vocês sabem que os Estados em geral colocam muitas barreiras para o amor entre pessoas e países. É muito complicado se viver no país que você ama. Isso vale para Brasileiros e o Brasil, para Alemães e o Brasil, ou para Brasileiros e Moçambique, Holanda ou Portugal ou mesmo a Papua Nova Guiné. O único país que ainda parece ser mais ou menos amistoso em relação à migração é a Austrália, e mesmo assim...

Enfim, se não Moçambique os Moçambicanos aceitam meu amor, e assim vamos vivendo maritalmente.

Uma de nossas pernas já está também de mudança para a França, onde um dia pretendemos seguir a família materna do Peter e aproveitar a vida com a tradição fascinante dos bons vinhos - simples vinhos, mas às vezes, perfeitos -, dos tomates cheirosos, do melão maduro, da ratatouille, do peixe fresco de Marseille.

Há mais novidades mas escrevo em trânsito. Logo mais, mais.

Saturday 24 October 2009

Tanzania dando lugar a novas paragens SOON...

Muito, muito trabalho e pouco tempo para contar as coisas. Um resumo rápido seria cheio de viagens, novos desafios, pessoas interessantíssimas, grupos de trabalho, alguns sucessos muito significativos, novas portas se abrindo, poucas se fechando!
Mas como é muita coisa, e talvez não venha ao caso, vale dizer que o tempo de Tanzania está quase no fim e que nos preparamos para novos ares na África do Sul e na França, não sabemos bem em que ordem, e qual a proporção do tempo em cada um destes países.
Dezembro sera o mês da grande mudança. Até cerca de 10 de Dezembro, ainda estamos fechando as últimas pastas, caixas e encontros desta fase. Depois, uma tentative de pausa por umas semanas. Brasil para o Ano Novo depois de muitos e muitos anos.
2010 promete. O trabalho com a Universidade de Wits, no nosso Professional Certificate in Education Finance continua, com as primeiras duas semanas de curso já iniciando no dia 18 de Janeiro. O trabalho com a InWent também continua em 2010, com o lançamento dos Módulos de capacitação em POEMA por volta de Abril ou Maio. Alguns trabalhos extras estão discutidos, vamos ver o que acontece mesmo: gestão de risco de calamidades, educação em Benin na África Ocidental, onde nunca trabalhei antes, visita a Rwanda, talvez uma cooperação com uma Universidade em Moçambique, talvez mais desenvolvvimento de formação de lideranças, na trilha em construção há tantos anos. Para coroar este interessantíssimo universo de possibilidades, tem o projeto de doutorado, já aceito pela Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.
Em casa, muito progresso academico, com muita gente avançando nos estudos, descobrindo caminhos, criando história: Peter com Nyerere, Caetano com José Siqueira, Davi com Becker e os filhos. Mas tem histórias também do Ricardo, com o mestrado em engenharia, a Carol, com o fim da pós na FAU e muita aventura pela frente, o Gabriel, com o job de limpar o solo de Sampa. Tem a Marilia de casa renovada, tem a Helo de casa nova. Tem a copa do mundo - claro, de futebol! - na África do Sul - quem vem?
Tem muitos amigos esperando pelo mundo: vai dar? Em Shangai, China, em Uganda, em Benin, em Portugal, no México, no Chile, na França, no Vietnam, no Paquistão, na Austrália. Tem amigos em Natal, Maceió, Salvador, Manaus, São Paulo, Rio...Tem Visconde Mauá pra rever, tem a Grécia pra conhecer. O que sera que vai rolar?
A Tanzania virando passado, mas amigos ficando no peito, poucos e queridos.
Moçambique continua minha casa, se os Moçambicanos continuarem abrindo as portas.
A França vai virar casa? Michele e Lis preparam a festa?
E a vó vai fazer 93 anos? E o Caetano fez 30 e o Davi 23.
Quanta coisa possível, e isto é só 2010! Deixa eu ir e cuidar de 2009, que ainda tem muita água pra rolar.

Monday 12 October 2009

trem-bala, bicicletas e os pedestres

Visito os jornais do Brasil por dois dias seguidos.

No fim de semana, encontro a notícia de que 73% dos motoqueiros não respeitam a faixa de pedestre em Sao Paulo, causando enorme número de acidentes de trânsito (não que os carros sejam MUITO melhores, mas já aprenderam alguma coisa...), ferindo pessoas.

Daí a notícia explica que o problema é que os motoqueiros querem sair sempre na frente nos carros. É compreensível, uma vez que é mais fácil dirigir onde não há carros, num trânsito caótico como o vosso aí no Brazil-zil-zil. MAS, uma solução muito simples - esta é minha sugestão para as vossas demonstrações populares reclamando uma solução JÁ - é reservar cerca de 4 metros imediatamente após as faixas TODAS da cidade, em áreas de maior trânsito, e talvez 2 metros em áreas de menor trânsito, para MOTOS e eventuais bicicletas - parece que o número de bikes está também a aumentar progressivamente.

É só uma questão de parar os carros um POUQUINHO antes... UAU, parece mesmo fácil. O resto é só educação, o que parece a parte fraca da coisa, pois li que somente 0.4 ou 0.6% das multas hoje aplicadas em Sampa se referem a carros ou motos avançando sobre a faixa do (POBRE!) pedestre! Bem, é claro que precisa educar o pedestre também para não avançar para a rua!

Ah, e o trem-bala? Este li hoje; e lembrei de uma conversa há uns dias atrás: perguntei a brasileiros o porque de se chamar este trem entre SP e Rio de trem-bala. Bom, só a pergunta meio que assustou os gajos: por que alguém questionaria isso?

Eu penso que a denominação BALA é muito violenta, militar, e lembra algo que vai ferir etc. Pelo menos pra mim, pra você não? Minha sugestão é chamar o bicho de TREM-RÁPIDO, ou TREM-EXPRESSO, ou mesmo adotando a mineirice chamar de TREM-BÃO, já que o "desenvolvimento" brasileiro acabou com qualquer possibilidade de transporte ferroviário para poder ajudar a consumir o petróleo do mundo (Viva JK!), e qualquer trem agora já é um trem-bão!

Sunday 11 October 2009

Verão no sul

O verão está chegando na Tanzania, de repente. Há duas semanas atrás ainda era possível dormir tranquilo. Agora, já sem ventilador é quase impossível. Hoje o dia todo sem eletricidade. O verão chegou.

Lembro de Outubro na Europa. Vermelho, muito vermelho nas árvores. Quando o tempo está bom, azul no céu. Frio sem congelar. Um dos meus períodos favoritos.

Outubro é mês de aniversário duplo, protegido pelos Ibeijis.

Muito, muito trabalho e pouco tempo para contar as coisas. Um resumo rápido seria cheio de viagens, novos desafios, pessoas interessantíssimas, grupos de trabalho, alguns sucessos muito significativos, novas portas se abrindo, poucas se fechando!
Mas como é muita coisa, e talvez não venha ao caso, vale dizer que o tempo de Tanzania está quase no fim e que nos preparamos para novos ares na África do Sul e na França, não sabemos bem em que ordem, e qual a proporção do tempo em cada um destes países.

Dezembro será o mês da grande mudança. Até cerca de 10 de Dezembro, ainda estamos fechando as últimas pastas, caixas e encontros desta fase. Depois, uma tentativa de pausa por umas semanas. Brasil para o Ano Novo depois de muitos e muitos anos.

2010 promete. O trabalho com a Universidade de Wits, no nosso Professional Certificate in Education Finance, continua, com as primeiras duas semanas de curso já iniciando no dia 18 de Janeiro. O trabalho com a InWent também continua em 2010, com o lançamento dos Módulos de Capacitação em POEMA por volta de Abril ou Maio. Alguns trabalhos extras estão discutidos, vamos ver o que acontece mesmo: gestão de risco de calamidades, educação em Benin na África Ocidental, onde nunca trabalhei antes, visita a Rwanda, talvez uma cooperação com uma Universidade em Moçambique, talvez mais desenvolvvimento de formação de lideranças, na trilha em construção há tantos anos. Para coroar este interessantíssimo universo de possibilidades, tem o projeto de doutorado, já aceito pela Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

Em casa, muito progresso academic, com muita gente avançando nos estudos, descobrindo caminhos, criando história: Peter com Nyerere, Caetano com José Siqueira, Davi com Becker e os filhos. Mas tem histórias também do Ricardo, com o mestrado em engenharia, a Carol, com o fim da pós na FAU e muita aventura pela frente, o Gabriel, com o job de limpar o solo de Sampa. Tem a Marilia de casa renovada, tem a Helo de casa nova. Tem a copa do mundo - claro, de futebol! - na África do Sul - quem vem?

Tem muitos amigos esperando pelo mundo: vai dar? Em Shangai, China, em Uganda, em Benin, em Portugal, no México, no Chile, na França, no Vietnam, no Paquistão, na Austrália. Tem amigos em Natal, Maceió, Salvador, Manaus, São Paulo, Rio...Tem Visconde de Mauá pra rever, tem a Grécia pra conhecer. O que sera que vai rolar?

A Tanzania virando passado, mas amigos ficando no peito, poucos e queridos.
Moçambique continua minha casa, se os Moçambicanos continuarem abrindo as portas.
A França vai virar casa? Michele e Lis preparam a festa?
E a vó vai fazer 93 anos? E o Caetano 30?

Quanta coisa possível, e isto é só 2010! Deixa eu ir e cuidar de 2009, que ainda tem muita água pra correr.

Sunday 2 August 2009

on the way (ainda no caminho)

I'm still on my way, just now in Brazil. So much has happened, but this blog is not to tell this sort of stories! Soon, a change in the blog, but it's so far a surprise. Wait and see!

Ainda estou no Brazil, de "férias", quer dizer trabalhando à distância. Logo haverá novidades neste blog. Aguarde!

Saturday 13 June 2009

férias!!!!!!!!!!!!! holidays!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Professional life sailing smoothly (if one can say this about this finishing hectic first semester), family healthwise on track, plans for the future unwinding progressively, it is time for some holidays!

Next big step is to be able to submit the PhD proposal until about September; I want to start in February 2010. Besides turning 50 in 9 days time...

So, here we go, holidays! France, Germany, Czech Republic, Cape Town, Brazil. Rest and work, a good combination.

Friday 29 May 2009

facilitation

My kids used to tell me that they used to have a lot of problems to explain to their colleagues what exactly their mother did and do. What's to be a facilitator? I just recall another story: a person working for the German Development Bank looked at my business card and said: "oh, I would never hire you with this title: social development facilitator? What's that? I would hire an economist, for instance".

I think a facilitator has one major role: to link. To marry. What? People, processes, procedures, instructions, orientations. Funders with funded. Plan and budget. Data producers and data users. Writers and readers. Central and decentralized level.

In facilitation events, the facilitator has to be very good in three things:
1. To do a thorough preparation, getting ready to promote varying moments of opening up, and consensus making, opening up, and consensus making...
2. To calculate well the time. The time needed for people to read, to listen, to reflect, to talk, to share. Start on time, finish on time. No pressure. Fun. And mission accomplished in the end.
3. To link and marry, as I said. How? Paying attention to the people. Listening. Connecting. Deconstructing individual discourses to cook a collective understanding. Relating the local and the global.

So, that was my quick recipe for good facilitation.

One more picture of our group last week.

Até!

Sunday 24 May 2009

maio esvaneceu-se

De repente, visito o blog da família e vejo que o Anand escreveu no seu blog que Maio quase se foi sem post. percebo a mesma coisa! Como pode ser que um mês passou assim tão rápido?!?

Escrevo de Maputo. Montes de trabalho passaram por baixo da ponte desde o último post. Minha mãezinha Marilinha fez seus 70. O Peter já comemora seus anos de novo na próxima semana, e meus 50 estão a virar a esquina. Esta coisa toda dos números redondos na idade é cheia de significados nesta nossa cultura decimal.

Vou abrir um blog novo, agora destinado ao trabalho. Este vai ficar reservado para a - pouca e irregular - atualização da vida em geral. Muita viagem ainda pela frente no ano de 2009. E muita mudança no ano de 2010. Será que um dia sossega - quer dizer, antes da morte? Assim, como disse o Anand, mais tempo para ver os amigos e engajar-se em longas conversas moles pelo fim de semana? Sei não...

Foi uma semana onde realisamos um trabalho incrível: educação, educação, educação. Conto mais quando sossegar...

Não vou resistir e vou colocar a foto da minha equipa de trabalho desta semana, com jornadas diárias das 7 às 21 horas. São literalmente 3 gerações. Valéria, Ana Alécia e Zenete. A foto traz sorriso de dever cumprido pois foi tirada já no último dia do trabalho.

Até.

Saturday 25 April 2009

a perfect day to write a report

It seems that the South Africa's election results are consolidated now. I feel good about the ANC having "fallen short" of the 2/3 majority in Parliament. I get scared every time a party has so great majority, because then any crazy changes in the Constitution - made so so progressive in times of dreaming democracy - can take place, decided by "representatives" of the "people".

Of course, my beloved country Brazil has managed to overcome such problem (the ruling party not having a 2/3 majority) buying votes (PARLIAMENTARIANS!!) with public money, but in South Africa this practice is not so well accepted yet, since the parties are sort of enemies, and floor crossing is not well regarded.

It's such a rainy day, that it is not bad that I have to spend my whole day writing a report. Although report writing is a very brain enlightening activity, it is not very healthy - sitting in front of the computer for hours.

I read today on the news that the worst of the "global downturn" is over. Funny. I always had the impression that the whole big crisis was mostly an excuse to sack as many people as possible from formal job posts, inflating the unemployed people's numbers, to have salaries brought down, before hiring those people again, or at least some of them, as soon as they're needed again. With public money subsidizing it all. As my granny used to say, if you have to steal something, do not go for a bread, go for a huge fraud. No, it's not true, my granny does not know what a fraud is, do you granny?

And Mom turning 70 next Sunday!!! Unbelievable! A picture of her new TV show. It's a weekly show, and she recorded her Workers' Day special last Tuesday, about the intellectual workers. It will air next Saturday, May 1.

Thursday 16 April 2009

winter, elections and philosophy

The weather has changed in Cape Town. Since yesterday, Autumn started showing its face, with a cool wind sweeping the False Bay. Today the sky is no longer blue and the mountains are barely visible on the other side of the bay. The view from where I write remains the same amazing view that delighted me often when I wrote my Master's dissertation back in 2004-05. I have mixed feelings in respect to South Africa and Cape Town. It's indeed beautiful, one of the most beautiful places in the world, or at least of the places I've visited. But South Africa resembles so much my native country Brazil in all its inequalities, violence, macho and conservative regulations that I have this mixed feelings about preferring my own country's social illnesses. Not sure though.

I realized that when I went to the old University of Cape Town this week, to discuss the possibility of engaging myself in a doctorate program, and found myself saying that "no", I was not intending to take the step towards being a citizen of South Africa. After all, why not?

Thinking that has so much to do with reflecting on what democracy truly is. Democracy - the rule by the people - can end up not being FOR the people, in the social concept of what people are. My rights end up when yours start. Everybody's rights. Social versus individual rights.

All this conversation about rights is a complicated one. I'm tackling this issue just now, while I write my evaluation report for Oxfam, a wonderful organization, whose values I can share: a fairer world; end of poverty and injustice; human rights.
South Africans will vote in national elections on the 22nd of April, the day Pedro Álvaro Cabral is said to have arrived and "discovered" Brazil, as such, 509 years ago. The Portuguese influenced a lot of the culture here in Africa as well. Angola, Guiné Bissau, Mozambique, and for some time many other natural harbors, such as Zanzibar and the Cape itself.

South Africans will elect Jacob Zuma on the 22nd. I do not know what South Africans think about it, but I find it a real waste of money to hold elections if the results are so certain and known. I guess the country needs a certain separation between the State and the ruling party to make it worthy to hold elections. The same applies in Mozambique, Tanzania and ... well, many other places. THE party controls everything (or tries hard to control everything): the judiciary, the electoral commission, the press, the tax authorities, the trade unions, the women's movement, the youth whatever name one gives it. In South Africa, it's not so much the case, but it's getting more and more the case.

Well, philosophically speaking, yes, of course, we must have regular elections. YES. What does that mean though? Amartya Sen proposes development as CHOICE. Without a choice, what are we voting for? What sort of human rights can one hold when there are no choices? One world, a global world, whose world?

Monday 23 March 2009

14 anos em África

E quem diria que são 14 anos de África! Mas é uma ilusão, com certeza. É como dizer “tantos” anos de Brasil, depois de ter morado apenas em alguns estados brasileiros. Ainda tanta coisa a descobrir.

Os países aqui são todos meio bebês, quase todos definidos na famosa Conferência de Berlim em 1884-1885 (sim! Durou meses!), que ficou conhecida como a Conferência em que se fez o “scramble for Africa”. Quem convidou foi um gajo muito esperto, o Chancellor Otto von Bismarck, da Alemanha, ele mesmo não muito interessado em colônias na África. Reuniram-se 14 países europeus mais os Estados Unidos e negociaram ali mesmo, entre champagne e caviar, como é que iam dividir a África entre eles.

Estas fronteiras divididas em Berlim pelos europeus são as (mais ou menos) fronteiras atuais. Pode-se imaginar a confusão. Tribos inimigas ficando obrigadas a prestar obediência ao mesmo poder colonial enquanto famílias ficavam divididas e separadas legalmente por fronteiras.

É engraçado que depois nas décadas de 60 a 80, quando quase todos os países conseguiram a sua independência, resolveu-se não questionar aquelas fronteiras, assim mantendo a confusão. Na verdade, os governos depois da independência mudaram muito pouco as estruturas e instituições coloniais, com algumas exceções. As prisões e a violência do Estado, a burocracia da papelada interminável, a peruca nos Parlamentares do Quênia, a toga dos juízes, e por aí vai, tudo herdado e mantido dos tempos coloniais. Quando alguns locais ousam dizer que era melhor nos tempos coloniais, eu entendo que eles querem dizer isso mesmo: pelo menos era de verdade. A violência. A burocracia. A pose. Agora, tudo brincadeirinha. War lords e não uma ideologia do Estado. Confusão.

Mas então. Vim pela primeira vez em Março de 1995. Maputo, Moçambique. Não tinha idéia de onde era. Tinha visto no mapa, sem tempo de pesquisar, ainda não havia internet. Chegada no aeroporto. Ainda muitos helicópteros e tanques como carcaças mortas ao longo da pista de pouso e decolagem (eles dizem “descolagem”). O acordo de paz tinha sido assinado em 1992, depois de uma guerra sangrenta, uma das mais cruéis do mundo, que durou mais ou menos 12 anos, dependendo de onde a pessoa estivesse.

Moçambique é hoje minha casa, mas sofro. Quanta coisa superaram mas ainda tanta coisa por fazer! Enquanto o próprio Ministro da Educação manda os filhos estudarem na Inglaterra, o Ministro da Saúde trata a família na África do Sul, a população tem que se contentar com um serviço que melhora aqui e piora ali. Mas nem vale a pena esta conversa, é complicado demais, a pessoa tem que viver uns tempos por aqui. Mas no Brasil, como é que é? O Ministro da Saúde opera o coração nos Estados Unidos? O Ministro da Educação manda os filhos pra Harvard?

São 14 anos e quase no fim da história, porque no próximo ano só estaremos na África no curto prazo, por razão de algum trabalho meu, ou porque usaremos a base de Cape Town. Mas parece que a vida está fazendo uma curva em direção à França, com cara de longo-prazo.

Este ano, para celebrar esta espécie de pré-retirada, trabalho como louca. Muitos feedbacks positivos, muito carinho, muitas perspectivas. Aqui em Dar es Salaam, Tanzania, gosto de ouvir estes muitos passarinhos a me contar histórias na janela, enquanto reclamo da internet sempre ruim. Amo relaxar na piscina, sempre morna, enquanto reclamo da falta de energia elétrica. Adoro a cervejinha em frente à praia, enquanto me lambuzo de repelente contra os mosquitos transmissores da malária. Assim são os muitos lugares do mundo.

Lembro agora de uma cantiga da umbanda, que me dá alegria de viver da mala entre aeroportos:

“Exu fez uma casa, de 7 portas e 7 janelas

Exu fez uma casa de 7 portas e 7 janleas.

Exu não precisa de casa

Pomba-gira é que mora nela.”

E Caetano...

“Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...”