Thursday 3 April 2008

Zimbabwe

Zimbabwe in English. Simbabwe auf Deutsch. Zimbábue em português.

Este era o país para o qual nos iríamos mudar, não a Tanzania. Aceitamos a posição em Dezembro de 2006. Contrato em Fevereiro de 2007. Esperando uma permissão de entrada até Setembro de 2007. Decisão de mudar para a Tanzania no mesmo mês. Permissão negada em Novembro de 2007.

Quando aceitamos o posto lá, sabíamos que a situação era difícil. Mas sabíamos que haveria eleições em Março de 2008, mais uma vez. Pensamos: uma ótima oportunidade para viver um momento tão importante do país, mais uma possibilidade de mudança, apesar da pouca esperança.

Não pudemos fazer parte daquele momento. Que está acontecendo agora.

O Zimbabwe sempre me fascinou. Apesar de tão mal falado entre "nós", ocidentais, e apesar de tão fragilizado por uma economia que nem sei se tem remédio (só os que viveram inflação astronômica acreditam que dá pra superar - o que é o meu caso, apesar dos traumas do tempo do nosso Collor / Zélia como-é-mesmo-o-nome-dela?).

Uma população com boa escolaridade, grandes intelectuais, uma tradição antiquíssima de poder. Boas experiências alternativas na área da preservação do meio ambiente. Um discurso de legalidade. Sempre me impressionou que toda a repressão da oposição política tem um ar de legalidade. De fato, mudar as leis era fácil, se o Parlamento era quase todo do partido no poder.

Eleições no último sábado. Um receio grande de violência, depois da promoção do ódio pós-eleições no Quênia. Na verdade, a situação é incrivelmente tranquila até agora, segundo todas as fontes. Somente isso deve ser contado MUITO em favor do Zimbabwe. Até agora.

Ainda há receio e expectativa. Só foram anunciados os resultados em relação ao Parlamento, e estes dão a vitória à oposição, pela primeira vez na história. Os resultados para a presidência estão ainda no ar. Segundo os analistas, há muitas conversas a portas fechadas com os militares e a polícia - que já disseram várias vezes no passado que nunca iriam se submeter a um Governo que não fosse o Governo deles.

Tudo isso dito, fica a minha admiração pela população, que se comporta sem violência. Pelo Governo, que até agora está controlando a violência oficial do Estado.

Isso dito também, fica o meu pessimismo usual com a possibilidade de um governo não corrupto. A rede de compra e venda de "favores" globalizou-se demais e é quase impossível escapar. Parece que Tsvangirai não é exatamente um primor da democracia quando se trata da própria casa.


Mas Morgan Tsvangirai vem da tradição dos sindicatos. Nosso Lula zimbabweano.
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Chove em Dar. Brasil em dois dias. Sugiro aos que tem possibilidade de acessar o jornalismo internacional para se ligarem na emissão do Al Jazeera. Enlightening.