Sunday 9 September 2007

Preparação para a Tanzania

Espero que os amigos no Brasil tenham usado a chance para pensar no significado da independência. Isto porque filosoficamente falando prefiro o espírito ancestral africano da interdependência (Ubuntu), que tem mais a ver com os verdes e os não nacionalistas. Mas este espírito africano quase já acabou, porque a pressão para "globalizar" é grande. E a globalização começa pelas coisas mais importantes para o desenvolvimento humano: cola-cola, o telefone celular, muitos canais na TV, comunidades virtuais - não que qualquer outro país possa bater o Brasil nesta coisa orkutiana.

A Tanzania, este país para onde vamos em Outubro, ficou "independente" em 1961, em um dos poucos movimentos pela independência em África sem banhos de sangue. Mais tarde teve um banho de sangue na ilha de Zanzibar, in 1964, quando os "africanos" tomaram o poder dos "árabes" (para mim, todas as nacionalidades deveriam vir assim entre aspas, porque afinal o que significa esta coisa aleatória de ter nascido aqui ou ali, ou assim ou assado?) que dominavam a ilha desde que a ilha era parte do sultanato de Oman, no Golfo Pérsico.

A parte do continente que forma a Tanzania era chamada Tanganyika e quando juntou com Zanzibar ficou tudo conhecido como Tanzania.

Na verdade, a situação ainda é meio estranha. Existe a constituição da União e de cada parte do país. E tem o presidente da Tanzania mas também tem o presidente de Zanzibar. Enfim...

A língua kiSwahili tem sua expressão mais original em Zanzibar. Foi de lá que a língua se espalhou pelo continente (hoje cerca de 50 milhões de pessoas falam Swahili em vários países). A expansão foi mais rápida quando a ocupação colonial alemã adotou o kiSwahili como a língua da administração colonial e portanto também para educar os nativos que trabalhariam na burocracia do regime.

O primeiro presidente depois da independência, Julius Nyerere, traduziu duas obras de Shakespeare para o kiSwahili, O Mercador de Veneza e César. Na verdade, o espertinho traduziu como "o capitalista de Veneza"...

A Tanzania tem coisas que muitos de vocês devem conhecer. O Monte Kilimanjaro, reservas naturais incríveis, como Selous e Serengetti, tem o Rio Rufiji, por onde Livingstone adentrou o continente para "descobrir" montes de coisas, e botar nomes europeus nas coisas africanas, como a Victoria Falls - em homenagem à rainha Vitória da Inglaterra.

Este Livingstone - um missionário - (David) merece um capítulo à parte. O cara foi um pioneiro da "catequização" no continente e cunhou o conceito dos três Cs: cristianismo, comércio e civilização. Deu no que deu.

Por hoje é só. Informações detalhadas podem ser vistas na minha tese de mestrado sobre jovens líderes tanzanianos.